quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O pior dia para falar de amor.


Abri a porta da minha casa abandonada e percebi que o cheiro de portas fechadas não me incomoda mais. Não me incomoda o convívio com as formigas e traças, nestes móveis velhos de quem já morreu. Não me incomoda as roupas sujas embaixo da cama e as limpas amassadas sobre ela. Não me incomoda o ralo entupido de células mortas, mas nem as vivas incomodariam. A geladeira que não gela mais, não faz diferença. E a árvore de natal que ninguém viu... nem isso me incomoda muito.
É só aquela roupa suada de ontem à noite, no chão da minha sala, amassada pelo amasso e pelo abraço seu. É só ela, singular, que me enche o peito de ar e me molha os olhos de nada. Porque na noite passada foi você quem abriu meus olhos e me mostrou quem eu sou. Foi você quem fechou meus olhos e me fez querer te ter inteiro. E eu, eu só fui aquela que te fez dormir de costas. Porque eu não sei amar o tempo todo. Eu não sei, mas se soubesse, te amaria.
Me incomoda saber que você já sabe.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

No Promises

A primeira música que eu compus. Letra e melodia.
Como eu disse, é simples mas é minha.
E veio de dentro, como tudo que tem aqui.
Espero que gostem... mesmo!


NO PROMISES

Cigarettes smoked by half.
Do you remember? You said you'd stop.
You lie on your bed and you want to have dreams
But you forgot how to fall asleep.

And your life looks like a story
About all the promises that you failed.
And the loves you destroyed,
They still run in your veins.

To remind you ...

It's easy to cry when you feel
That your love will leave you someday.
But you smile even when
You're breaking a heart without shame.

And you look around and see no glory
In those things you've already won.
And you talk to Jesus
But he doesn't want to hear you anymore

Not anymore...

*****

SEM PROMESSAS

Cigarros fumados pela metade.
Você se lembra? Você disse que ia parar.
Você deita na sua cama e quer ter sonhos
Mas você se esqueceu como dormir.

E sua vida parece como uma história
Sobre todas as promessas que você não cumpriu.
E os amores que você destruiu,
Eles ainda correm nas suas veias.

Para te lembrar...

É fácil chorar quando você sente que
Seu amor vai te abandonar algum dia.
Mas você sorri mesmo quando está
Quebrando um coração, sem se envergonhar.

E você olha em volta e não vê nenhuma glória
Nas coisas que você já conquistou.
E você fala com Jesus
Mas ele não quer mais te ouvir.

Não mais... Nunca mais...

domingo, 24 de outubro de 2010

Sonhos de cimento e ar.


Fazendo leitura dinâmica dos meus pensamentos. Em câmera lenta.
Sentindo as batidas do meu fiel ressoando em cada pedaço de pele e entupindo a garganta.
Tem uma escola de samba a ensaiar aqui dentro que anda devagar e pisa nos meus sonhos, fazendo-os sentir a linda dor da existência. Porque a dor da vida é das mais belas.
E, graças a Mim, tudo que eu quero é ser passarela.
Pise fundo e com vontade.
- escrito na rodoviária que é a passarela de Sorocaba.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Afogando as mágoas que eu não tenho.

Minha vida está a bordo de um barco em águas calmas. Não tem ressaca, nem tempestade, nem tesouros escondidos. Não tem vento no céu que mude a minha direção. Só o sol queimando meu rosto e me dando energia para pensar que vale a pena. E tem muita certeza nisso; a calmaria ideal, uma vida toda desembrulhada do presente. O lugar perfeito para morrer. Mas não pra mim, que nem comecei a viver!

Onde estão as ondas teimosas para molhar minhas roupas, meus cabelos e arrepiar os pelos do corpo? Pra onde vão essas aves que cantam sotaques de outros ninhos? E as histórias de vilão e mocinho pra iludir meu coração? Eu tenho saudade da falta de resposta pra questão... e tenho saudade da solidão. Cadê os piratas que vão me salvar? Quem vai encontrar o tesouro perdido no meu peito? É do tamanho do mundo essa riqueza que não cabe mais aqui dentro. É grande demais para ter só um fim. O tesouro que eu tenho não quer ser polido, quer cicatrizes de sangue... Sangue A, Sangue B, Sangue Ouro Negativo. E experimentar o curativo que vier. E se vier. Porque eu prefiro morrer sangrando a viver de espera.

Ah, essas nuvens... Contam-me histórias enevoadas de amores platônicos e traições inocentes, e viram chuva que molha meus olhos e dá brilho. Vou pular nesse mar e mergulhar no reflexo da vida que eu quero levar. E me afundar. Talvez me afogar. Sorrindo por ver o barco-prisão sozinho lá em cima a se perguntar: “Onde foi que eu errei?”. E as bolhinhas de H2O encharcando os meus vãos vão sussurrar a resposta: “Na perfeição, meu Amor”.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Uma dose de cabeça pra baixo (que é pra você dormir bem).

Outro dia mesmo eu te percebi pela primeira vez parado na passagem principal da minha rotina e sua barba me tomou horas de questionamento sobre qual cheiro deveria ter.

Você mal me viu sorrir e já sabia: “She’s going to smile to make you frown, what a clown” *. E passamos a nos seguir pelos corredores, sem querer.

Aos poucos fui decifrando seus olhos atrás das lentes, seus dedos atrás dos livros e seus dentes atrás do cheiro que só sonhando pra saber. Já éramos íntimos quando ouvi o timbre dela, sua Voz, que só podia vir acompanhada do som do violão que você fazia falar.

Então eu pedi um copo e engoli toda minha timidez; pedi um cigarro e traguei toda minha ansiedade – eu que nem fumo, só porque estava com você. Nesse dia decorei as variações Dela e podia ouvi-la a metros de distância com o coração e olhos acelerados. Meu coração fazendo escândalo dentro de mim outra vez. Não demorou muito e você sentiu a vibração ali, minhas orelhas queimando, minhas palavras trocadas e meu idiota disfarce de mulher controlada. Cada detalhe como um fio de barba que você já conhecia há tempos. E por saber da tempestade que acontecia em mim, abriu guarda-chuvas e capas e construiu um abrigo seguro num espaço vazio dentro de ti, para me proteger das enchentes e terremotos que eu mesma causaria. Um homem e tanto você se mostrou; e que por não crescer como os outros, manteve intacta a sensibilidade necessária para me fazer querer te abraçar todos os dias.

Mas os dias sem você só aumentavam e, por eu não poder te ter, você se livrou de mim. Se me perguntassem qual o cheiro da saudade eu já saberia responder: é o mesmo da barba que só sonhando pra saber. Tenho dó não de mim, mas dos copos plásticos que desfio entre meus dedos que, sem utilidade, nem têm sede pra matar. Mas se isso tiver que ser tudo, que continue assim, pois hoje eu sou ao menos a Branquinha de luz própria, quem te conduz entre tantas outras ‘negas’ que só passam sem parar.

* Femme Fatale - The Velvet Underground

13/09/10 – Samantha P. S.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

1 x 1

Ele dormiu do lado direito da cama esta noite, bem do meu lado. Nem a cama de casal, nem o apartamento, nada ali nos pertencia. Só o sono. É que o colchão na sala destinado a ele era quase só chão e a noite implorava conforto. Éramos só nós dois, afinal, para quê fingir? Quando não tem ninguém para te julgar, você perde o medo de arriscar e então “fica comigo esta noite?”. Eu vi felicidade e gratidão transbordando em seu corpo, que enrijeceu tímido.

Dormiu cedo e de costas para mim - o Sr. Respeito - e eu invejei sua respiração profunda de criança. Observei cada segundo o ar entrando e saindo do peito. Tentei acompanhá-lo, mas dormi antes que conseguisse e me perdesse em suspiros.

Acordou cedo e ficou me olhando dormir, mas eu acordei primeiro. Chegou perto da minha boca, eu senti. Abri os olhos no mesmo momento que ele fechou os dele. Não se deve confiar em quem finge dormir – pensei. E voltei a fingir. Estava a dois centímetros do meu rosto e queria me beijar, então eu brinquei com isso sem abrir os olhos. Nariz com nariz, nariz com boca, nariz com olho fechado e a respiração orquestrada dentro do nosso peito. Peito com peito, peito com ombro, peito com mão. Mão com costas, mão com cabelo, mão com cintura e, finalmente, mão com tesão. Boca com boca. Olhos abertos, janelas abertas e... pernas abertas.

A manhã nasce linda para todos os amantes. Tem cheiro de vida uma manhã assim e talvez só por isso eu acorde sempre pronta para dizer “bem-vindo” com o corpo. Eu agi como se soubesse o que fazia o tempo todo e nós dois acreditamos. Tão convincente que passamos o dia andando de mãos dadas como se tivéssemos descoberto um antigo amor oculto. Mas não se deve confiar em quem tem o coração partido. Eu o amei um dia, mas ele só me amou a partir deste. Antes fosse antes!

13/09/10 - Samantha P. S.


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Vida, me perdoa?



Hoje não deu. Fui obrigada a segurar meu coração ao passar na sua frente. Desacostumado com meus mimos e erros, ele estava definitivamente decidido a me abandonar e te pedir abrigo por favor. Não dá! Dessa vez amordacei esse idiota que só quer se aventurar. Ele quer rodízio de amor, quer ser gula e luxúria ao mesmo tempo, quer ferver o tempo todo e sofrer queimaduras de graus ridículos para aumentar a coleção de cicatrizes. Ele não quer ninguém para carregá-lo na prisão do peito. Mas eu, eu não.

Eu só preciso de um e sei quem deve ser. Quero aventurar-me na rotina dos mesmos olhos que – eu sei – nunca decifrarei. Quero preencher o vazio úmido e morno que existe permanente em mim com o molde perfeito que eu já sei de cor. Quero abrigar aqui dentro extensões de meus genes e me ver nos gestos primários dos meus filhos. Quero a satisfação mundana de programar o fim, sem correr riscos. Quero sim e repito até me convencer.

E essa vergonha que meu mal-agradecido coração me faz passar, é dor que só eu sinto. Me aproximo da morte a cada censura, mas que minha vida me perdoe... é tempo de racionalizar a covardia e insistir – não no erro, mas na esperança.

02/09/10 - Samantha P. S.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

"Fahrenheit"


Quando as pessoas me diziam que o perfume era como uma identidade, uma impressão sensitiva presencial, eu não costumava acreditar. Tantas pessoas eu já abracei e sequestrei para dentro de mim pelas narinas... Com exceção de duas ou três de intimidade familiar incontestável, nunca me lembrei de alguém por consequência do respirar. Até hoje.

Alguém usou o seu perfume; alguém que eu admiro muito. Parou do meu lado indiscretamente e o vento fez sua parte de enfiar aquele seu cheiro pra dentro de mim, na direção do meu cérebro. Parei de respirar. Não podia ser ninguém além de você. O primeiro.

A princípio não entendi por que ele fez isso. Por que roubou de ti a única coisa que eu ainda lembrava sem querer ser tua. Mas o acaso tem suas reservas incontestáveis e absolutas. As pessoas utilizam-se de artifícios extravagantes para nos atingir – e você usou aquele pobre homem de caráter. Era você impregnado naquele pescoço e naquela roupa, jogando na minha cara todos os momentos que eu juro já tinha esquecido.

Pude ouvir sua voz se gabando que aquele era importado e custava mais caro que os que eu usava, mas não tão caro, pois você nem se importava em desperdiçá-los em meus pertences – que era pra eu não sentir sua falta. E já estava na metade daquele vidrinho crepuscular imponente, mas tudo bem, pois você já ia comprar outro com o troco da tequila. Não tinha cama, nem cabelo, nem sonhos e passava rodo no banheiro depois do banho; mas dinheiro para o perfume nunca lhe faltou. O cheiro ácido-amadeirado do seu perfume que impregnava os quatro cantos do seu quarto vazio. Foi como uma tempestade o seu cheiro: no início me agradou, mas sua persistência intermitente me sufocava mais a cada dia e eu não podia sair de casa para lembrar do ar puro, pois você estaria lá com seu cheiro orgulhoso, derrubando-o como orvalho do amor em tudo que me cercava. Como se tornou irritante a sua presença inconfundível! Você chegava sempre sorrindo com o cheiro antecipado sabendo que eu amava tudo isso, enquanto eu sorria com os lábios nauseados e os olhos lacrimejando de coragem e covardia – corajosa para te encarar e covarde para te deixar. Eu devia ter inventado um fim para esse desespero. Que poder o teu perfume tinha de me afastar e você! E... que desculpa inovadora eu encontrei para me livrar da sua sombra inodora!

Foram dias difíceis aqueles ao seu lado. Nada digno de ser recordado. Nada além do cheiro ácido do passado, que quando misturado com seu suor me dava arrepios que serviam como choques para acordar a minha vida e me dizer que meu tempo não podia ser perdido.

E por você nunca saber disso, hoje não tem mais cheiro. Até agora.


18/08/10 - Samantha P. S.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Antes a rosa, hoje há saudade.


Ele deixou a janela do quarto do prédio aberta pra deixar a chuva entrar. Depois fez amor na cama molhada e dormiu dentro dela. Quem diria que um homem como ele faria isso com ela. “Eu preciso saber, você está acordado?”. Ele tinha cansado das mulheres frígidas que o amavam por interesse, foi assim que ela descobriu por que ele a amava. Ele lhe disse eu te amo algumas vezes num dia, mas o coração dela não quis responder nenhuma e então ele dormiu novamente - sem sonhos - e acordou no dia seguinte, sem amar mais. Ele tinha um lugar para voltar, graças a ele. Antes a rosa, hoje há saudade.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Simpatia reprimida.





Eu nunca prestei atenção nele, mas fui para cumprimentá-lo com um beijo no rosto, como minha nada-nobre educação recomendava.
Ele me surpreendeu com rápida rejeição sorridente [me lembrou o momento final da Odisséia do Amor Platônico, só que no lugar do sorriso eram lágrimas]. Disse que não podia me beijar porque nossa amizade não era sincera. Eu, de idiota, insisti na merda do respeito.
"Mas eu nunca compartilhei contigo meus problemas!". "E nem eu quero saber deles!" - respondi de imediato, agora sorrindo o sorriso sincero de quem finalmente diz o que quer.
Então quer dizer que agora existem regras para o (con)tato? "Conte-me um segredo e terás passagem livre até meu rosto." Pro inferno com tudo isso!
A verdade é que eu nunca me senti tão bem na quase-companhia de um estranho complicado. Fomos inevitavelmente sinceros um com o outro.
Não guardo rancor, guardo lições.



terça-feira, 4 de maio de 2010

Sobre enganos propositais e arrependimentos tardios.

De repente, na manhã mais solitária do mês - depois de um sonho ou uma noite mal dormida - ele acordou preparado para aceitar sua própria verdade crua.

Talvez tenha sentido a noite inteira vazia, ou o mês inteiro infeliz. Talvez tenha sentido saudade de alguém que nunca quis. Talvez um dia numa sala de aula lotada ele tenha procurado - por instinto - apenas um olhar, só um olhar mais intenso que estivesse teimosamente vivo por sua culpa, em vão. Talvez os shows estivessem mais calmos e menos iluminados, ou a plateia fosse só ventiladores... mas ele começou a sentir frio e mesmo a garrafa vazia, nem esta conseguia dar-lhe o calor necessário - que era bem dentro do peito. Talvez, até mesmo seu pai - aquele monstro que roubou-lhe a liberdade de criança - tenha mostrado-lhe através de vômitos e oratórias o engano, o grande engano da covardia de não assumir nem encarar seu grande Amor. Ele, que sempre negou seu sobrenome, acordou na manhã mais solitária do ano e ao invés de escovar os dentes grandes e brancos, olhou-se no espelho e viu os mesmos olhos tristes de quem fugiu da felicidade, velhos de quem não vive e cansados de quem finge rir suas lágrimas; os mesmos olhos de seu quem-dera-amado pai.

Talvez por tudo isso, por cada uma de todas as minhas hipóteses, ele tenha sentido a necessidade de ouvir a única voz que o reconhecia como homem e que, no entanto, ele evitou por tanto tempo. Por isso - e não por outro engano proposital - ele me acordou num pulo e com o coração finalmente batendo com vontade, assumiu para si mesmo algo que eu já sabia há tempos: "Desculpa, foi engano". "O maior dessa vida", eu responderia em lentos batimentos cardíacos, que provavelmente nunca servirão de consolo.

Imagem: ¿Quién es Quién? - El NAF

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Eu: mártir de mim mesma


Tiradentes Esquartejado (Pedro Américo, 1893)

A vitrola começa a chiar e logo em seguida começa uma música que eu não gosto. Não vou mudar. Só liguei para distrair a cabeça e parar de sentir as pontadas no coração que refletem no cisto do filho que eu não vou ter.

Eu penso que queria ter sorte em tantas coisas, mas não é possível. O Velho Barreiro, barbudo de sabedoria, me diz que eu estou certa e acrescenta: Tiradentes também estava.

Realmente, minha cabeça parece decapitada e meu corpo, esquartejado. Deve ser o preço da certeza, afinal. Um dia posso precisar de um feriado para mim - e quem sabe eu não mereça - para fingir acalmar a cabeça com uma música antiga compactada num disco, rodando no ritmo frenético dos meus medos infantis que eu certamente não superei.

Eu vou mudar.


terça-feira, 20 de abril de 2010

Sobre corações e ritmos secretos



Desliguei o celular sabendo que tinha algo a mais para perguntar. Pensei em retornar, mas não... se a resposta fosse "sim" eu não saberia o que fazer. Tem horas que eu prefiro a incerteza que a verdade. A mentira também seria uma opção, mas se um dia eu a descobrisse, jamais o perdoaria.
"Quem é vivo sempre aparece". Frase de impacto que ainda não surtiu efeito; para mim. Ele teve a (des)ventura hoje e me contou, com a voz inalterada.
Talvez eu não alterasse a minha se fosse comigo e talvez eu não contasse para ninguém que eu, orgulhosamente, não senti meu coração mudar de ritmo.

_ Mas e você, SENTIU?



[silêncio]

sábado, 27 de março de 2010

Sobre o tempo, esse mistério.


Eu me perco olhando no relógio. Eu olho no relógio para me perder. Um vício.
11:11. Algum dia pensaram em mim. 11:12. Algum dia pensarão em mim.


Passaram-se sete anos enquanto eu procurava o pedaço de mim que eu já tive.
Passou-se um mês desde que o reencontrei. Uma semana sem te ter ou ver.
Dez horas marcadas no ponteiro para te ter! Contagem regressiva. Progresso!


Dez anos sem contato nenhum. Contradição: "Longe dos olhos, longe do coração".
Cinquenta minutos de aula que ficaram gravados para sempre. Inconsciente...
Uma carta de vinte minutos para repor os dez anos. Esperança passeia em mim.

Uma vida inteira de espera atrasada.
Tudo está cronometrado.
Quem comanda sou eu.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O que se esvai entre os dedos




Escrito por Eliéser Baco (www.elieserbaco.blogspot.com),
que sutilmente me incluiu na história.
Obrigada!






Mr. Chivalry encosta-se na cerca ampla de uma estalagem para abrir o guardachuva, a garoa que parecia firme e ritmada transforma-se de vez em tempestade. É tarde da noite. Michela, Srta Portman, Samantha, acompanhada de seus pares, esperam-no. Dimitri acende o cigarro de uma delas e coloca o capuz de couro sob os desalinhados cabelos. Caminham.


Mr Chivalry
_ Seres que não sou. Momentos que viveria se o breu se revirasse ao... (um inconsistente tremor na vinha do outro lado da estrada o faz subtamente parar). Solos que pisaria acompanhado se a mágica oferecesse. Mágica de possuir, como num ato... (da vinha nada parece mais atraver, mas todos a observam)
ato de deixar de ser, acelerar, acelerar, e bruscamente levitar, enxergado que fôra!

Srta Portman
_ Os modos enfraquecem o que conhecíamos da mistura dos povos, da andança das gentes. Tudo se parte em situações que empobrecem o teor de mim, o teor de Michela, de Samantha Bathory. O breve riso, maléfico riso dos outros. Austera escolha Mr. Chivalry o de tentar ser, difícil nestes tempos de costuras e remendos no falar, nem ouvir mais podem ou sabem.

Mr. Chivalry
_ Trocarei de lugar com o retrato, bela moldura... acertado que fôra. Labirinto, teor d'arte de relevo em pintura?

Dimitri
_ Do que falam? Remendos na fala? Trocar de lugar com a pintura? Qual pintura? Não acompanham o resto da humanidade? As guerras fazem fortuna, as doenças continentais da mesma forma. A arte é ser famoso, é entreter com pão e circo os que votarão nos mesmos coronéis de sempre. Para que refletir se podem ficar grudados nas vidas alheias, sejam folhetins ou não. Do mais que tratam nas tavernas acompanhados do vinho e do whisky, são asneiras, penas que voam na esteira do tempo, perdem demais refletindo e suando uns sobre os outros, precisam acompanhar a marcha desta sociedade. O espetáculo está lá para podermos admirar. Para que o arrebol? Tenhamos pois a ficção de acharmos estarmos certos ao nos deixarmos levar pela mídia. Leituras? Leiam as bulas, e prestem atenção nas letras miúdas velhacos.

Param de caminhar.

Michela
_ Estás doudo Dimitri? Deram-lhe absinto?

Dimitri
_ Quase a convenci não? Preciso melhorar meus improvisos teatrais.

Riem e o expulsam para a chuva.

Samantha Bathory
_ Na Taverna. Aquele momento maior. Se debaixo do som daquela voz do poeta, pelo momento em que respirou para continuar a declamar, aparecesse... seria ritmo, força do cosmo em poeiras, sorriso do sol que se esvai entre os dedos.


Todos admiram a quieta Samantha. E ficam a memorar o que para cada um se esvai entre os dedos.