terça-feira, 19 de outubro de 2010

Afogando as mágoas que eu não tenho.

Minha vida está a bordo de um barco em águas calmas. Não tem ressaca, nem tempestade, nem tesouros escondidos. Não tem vento no céu que mude a minha direção. Só o sol queimando meu rosto e me dando energia para pensar que vale a pena. E tem muita certeza nisso; a calmaria ideal, uma vida toda desembrulhada do presente. O lugar perfeito para morrer. Mas não pra mim, que nem comecei a viver!

Onde estão as ondas teimosas para molhar minhas roupas, meus cabelos e arrepiar os pelos do corpo? Pra onde vão essas aves que cantam sotaques de outros ninhos? E as histórias de vilão e mocinho pra iludir meu coração? Eu tenho saudade da falta de resposta pra questão... e tenho saudade da solidão. Cadê os piratas que vão me salvar? Quem vai encontrar o tesouro perdido no meu peito? É do tamanho do mundo essa riqueza que não cabe mais aqui dentro. É grande demais para ter só um fim. O tesouro que eu tenho não quer ser polido, quer cicatrizes de sangue... Sangue A, Sangue B, Sangue Ouro Negativo. E experimentar o curativo que vier. E se vier. Porque eu prefiro morrer sangrando a viver de espera.

Ah, essas nuvens... Contam-me histórias enevoadas de amores platônicos e traições inocentes, e viram chuva que molha meus olhos e dá brilho. Vou pular nesse mar e mergulhar no reflexo da vida que eu quero levar. E me afundar. Talvez me afogar. Sorrindo por ver o barco-prisão sozinho lá em cima a se perguntar: “Onde foi que eu errei?”. E as bolhinhas de H2O encharcando os meus vãos vão sussurrar a resposta: “Na perfeição, meu Amor”.