quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Dê a descarga.



Um sentimento antigo esquecido no canto mais sombrio da memória. Eu só lembro quando durmo. Cada homem que deita ao meu lado traz um milésimo da memória velha e ao fechar os olhos o cérebro faz sua parte de resgate. Sonho com sorrisos letivos.
Eles levantam da cama e vão ao banheiro e eu penso que é você voltando a qualquer momento. Porque você era desses que vão mas sempre voltam, exatamente como quem só vai ao banheiro por necessidade, faz uma merda qualquer e volta aliviado com a alma mais leve e o coração com mais espaço para mim. Só foi logo ali pegar fôlego para me suportar um pouco mais. Nunca mais voltou.
Esqueceu o caminho de casa e encontrou deus na esquina do bordel. Esqueceu da paixão que agora jaz seca entre os livros de literatura de cordel. Cordas e algemas ao redor de si e uma venda benta nos olhos para secar as lágrimas. Por onde passo deixo pedaços e rastros de ti - pistas de saudade. Você nunca mais vai voltar?

Doa-me o que doer.


Eu lembro dos dias de tédio em sala, quando eu - por exclusiva covardia - fingia estar com náuseas, dores estomacais ou enxaquecas e o professor respondia convencido: "Estás mesmo muito pálida! Vá tomar um ar!" e eu fugia encabulada e surpresa com meu dom camaleônico... Momentos depois eu começava a ter náuseas e dores - não aquelas idealizadas, mas as que dóem. Eu lembro de como eu preferia ser doente a ficar na sala aprendendo coisas que eu nunca usei. Minha longa história sobre doenças convenientes.

{10/05/10}