Ele dormiu do lado direito da cama esta noite, bem do meu lado. Nem a cama de casal, nem o apartamento, nada ali nos pertencia. Só o sono. É que o colchão na sala destinado a ele era quase só chão e a noite implorava conforto. Éramos só nós dois, afinal, para quê fingir? Quando não tem ninguém para te julgar, você perde o medo de arriscar e então “fica comigo esta noite?”. Eu vi felicidade e gratidão transbordando em seu corpo, que enrijeceu tímido.
Dormiu cedo e de costas para mim - o Sr. Respeito - e eu invejei sua respiração profunda de criança. Observei cada segundo o ar entrando e saindo do peito. Tentei acompanhá-lo, mas dormi antes que conseguisse e me perdesse em suspiros.
Acordou cedo e ficou me olhando dormir, mas eu acordei primeiro. Chegou perto da minha boca, eu senti. Abri os olhos no mesmo momento que ele fechou os dele. Não se deve confiar em quem finge dormir – pensei. E voltei a fingir. Estava a dois centímetros do meu rosto e queria me beijar, então eu brinquei com isso sem abrir os olhos. Nariz com nariz, nariz com boca, nariz com olho fechado e a respiração orquestrada dentro do nosso peito. Peito com peito, peito com ombro, peito com mão. Mão com costas, mão com cabelo, mão com cintura e, finalmente, mão com tesão. Boca com boca. Olhos abertos, janelas abertas e... pernas abertas.
A manhã nasce linda para todos os amantes. Tem cheiro de vida uma manhã assim e talvez só por isso eu acorde sempre pronta para dizer “bem-vindo” com o corpo. Eu agi como se soubesse o que fazia o tempo todo e nós dois acreditamos. Tão convincente que passamos o dia andando de mãos dadas como se tivéssemos descoberto um antigo amor oculto. Mas não se deve confiar em quem tem o coração partido. Eu o amei um dia, mas ele só me amou a partir deste. Antes fosse antes!
13/09/10 - Samantha P. S.