quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sozinhos.


Olha pra mim: descascando cebolas sem parar, com cheiro de carne podre na corrente sangüínea. O ralo entupiu de novo. Olha o que me faz chorar... Sozinha num pseudo-lar, com a boca cheia de doce azedo. Alimentando minha tensão pré-casual. Dando pistas e mais pistas de quem eu nem sabia que era. E é assim que você gosta de mim: sozinhos.

Adaptação.



Já lavei os lençois e as fronhas, já troquei o lixo do quarto. Já limpei os vidros e janelas e te desenhei na parede. Dorme comigo só mais hoje e vai ficando aqui sem ver os dias passarem. Deixa que eu tiro sua roupa, te jogo na cama e beijo teu corpo com suor encharcado. Viro o colchão, troco de lado, ilumino seus olhos. Te falo de deus, de mãe e de mim; um pouco de tudo que não te faz falta, nem faz sentido. Subo todas as ruas e choro com a chuva. Seguro suas mãos e te acendo cigarros. Te dou mais um trago. Dou passos largos, te largo no ponto e te dou mais um beijo. Não digo "eu te amo", mas nós já sabemos. Por que tudo acaba sem nem começar? Você na parede e eu em qualquer lugar. Seu presente embrulhado com cordas e lanças. Já posso até me matar.