segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O que se esvai entre os dedos




Escrito por Eliéser Baco (www.elieserbaco.blogspot.com),
que sutilmente me incluiu na história.
Obrigada!






Mr. Chivalry encosta-se na cerca ampla de uma estalagem para abrir o guardachuva, a garoa que parecia firme e ritmada transforma-se de vez em tempestade. É tarde da noite. Michela, Srta Portman, Samantha, acompanhada de seus pares, esperam-no. Dimitri acende o cigarro de uma delas e coloca o capuz de couro sob os desalinhados cabelos. Caminham.


Mr Chivalry
_ Seres que não sou. Momentos que viveria se o breu se revirasse ao... (um inconsistente tremor na vinha do outro lado da estrada o faz subtamente parar). Solos que pisaria acompanhado se a mágica oferecesse. Mágica de possuir, como num ato... (da vinha nada parece mais atraver, mas todos a observam)
ato de deixar de ser, acelerar, acelerar, e bruscamente levitar, enxergado que fôra!

Srta Portman
_ Os modos enfraquecem o que conhecíamos da mistura dos povos, da andança das gentes. Tudo se parte em situações que empobrecem o teor de mim, o teor de Michela, de Samantha Bathory. O breve riso, maléfico riso dos outros. Austera escolha Mr. Chivalry o de tentar ser, difícil nestes tempos de costuras e remendos no falar, nem ouvir mais podem ou sabem.

Mr. Chivalry
_ Trocarei de lugar com o retrato, bela moldura... acertado que fôra. Labirinto, teor d'arte de relevo em pintura?

Dimitri
_ Do que falam? Remendos na fala? Trocar de lugar com a pintura? Qual pintura? Não acompanham o resto da humanidade? As guerras fazem fortuna, as doenças continentais da mesma forma. A arte é ser famoso, é entreter com pão e circo os que votarão nos mesmos coronéis de sempre. Para que refletir se podem ficar grudados nas vidas alheias, sejam folhetins ou não. Do mais que tratam nas tavernas acompanhados do vinho e do whisky, são asneiras, penas que voam na esteira do tempo, perdem demais refletindo e suando uns sobre os outros, precisam acompanhar a marcha desta sociedade. O espetáculo está lá para podermos admirar. Para que o arrebol? Tenhamos pois a ficção de acharmos estarmos certos ao nos deixarmos levar pela mídia. Leituras? Leiam as bulas, e prestem atenção nas letras miúdas velhacos.

Param de caminhar.

Michela
_ Estás doudo Dimitri? Deram-lhe absinto?

Dimitri
_ Quase a convenci não? Preciso melhorar meus improvisos teatrais.

Riem e o expulsam para a chuva.

Samantha Bathory
_ Na Taverna. Aquele momento maior. Se debaixo do som daquela voz do poeta, pelo momento em que respirou para continuar a declamar, aparecesse... seria ritmo, força do cosmo em poeiras, sorriso do sol que se esvai entre os dedos.


Todos admiram a quieta Samantha. E ficam a memorar o que para cada um se esvai entre os dedos.