quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O pior dia para falar de amor.


Abri a porta da minha casa abandonada e percebi que o cheiro de portas fechadas não me incomoda mais. Não me incomoda o convívio com as formigas e traças, nestes móveis velhos de quem já morreu. Não me incomoda as roupas sujas embaixo da cama e as limpas amassadas sobre ela. Não me incomoda o ralo entupido de células mortas, mas nem as vivas incomodariam. A geladeira que não gela mais, não faz diferença. E a árvore de natal que ninguém viu... nem isso me incomoda muito.
É só aquela roupa suada de ontem à noite, no chão da minha sala, amassada pelo amasso e pelo abraço seu. É só ela, singular, que me enche o peito de ar e me molha os olhos de nada. Porque na noite passada foi você quem abriu meus olhos e me mostrou quem eu sou. Foi você quem fechou meus olhos e me fez querer te ter inteiro. E eu, eu só fui aquela que te fez dormir de costas. Porque eu não sei amar o tempo todo. Eu não sei, mas se soubesse, te amaria.
Me incomoda saber que você já sabe.