segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Uma dose de cabeça pra baixo (que é pra você dormir bem).

Outro dia mesmo eu te percebi pela primeira vez parado na passagem principal da minha rotina e sua barba me tomou horas de questionamento sobre qual cheiro deveria ter.

Você mal me viu sorrir e já sabia: “She’s going to smile to make you frown, what a clown” *. E passamos a nos seguir pelos corredores, sem querer.

Aos poucos fui decifrando seus olhos atrás das lentes, seus dedos atrás dos livros e seus dentes atrás do cheiro que só sonhando pra saber. Já éramos íntimos quando ouvi o timbre dela, sua Voz, que só podia vir acompanhada do som do violão que você fazia falar.

Então eu pedi um copo e engoli toda minha timidez; pedi um cigarro e traguei toda minha ansiedade – eu que nem fumo, só porque estava com você. Nesse dia decorei as variações Dela e podia ouvi-la a metros de distância com o coração e olhos acelerados. Meu coração fazendo escândalo dentro de mim outra vez. Não demorou muito e você sentiu a vibração ali, minhas orelhas queimando, minhas palavras trocadas e meu idiota disfarce de mulher controlada. Cada detalhe como um fio de barba que você já conhecia há tempos. E por saber da tempestade que acontecia em mim, abriu guarda-chuvas e capas e construiu um abrigo seguro num espaço vazio dentro de ti, para me proteger das enchentes e terremotos que eu mesma causaria. Um homem e tanto você se mostrou; e que por não crescer como os outros, manteve intacta a sensibilidade necessária para me fazer querer te abraçar todos os dias.

Mas os dias sem você só aumentavam e, por eu não poder te ter, você se livrou de mim. Se me perguntassem qual o cheiro da saudade eu já saberia responder: é o mesmo da barba que só sonhando pra saber. Tenho dó não de mim, mas dos copos plásticos que desfio entre meus dedos que, sem utilidade, nem têm sede pra matar. Mas se isso tiver que ser tudo, que continue assim, pois hoje eu sou ao menos a Branquinha de luz própria, quem te conduz entre tantas outras ‘negas’ que só passam sem parar.

* Femme Fatale - The Velvet Underground

13/09/10 – Samantha P. S.

3 comentários:

  1. O cheiro que apetece sentidos. Ruídos do coração trazem mais do que sangue e oxigênio à vida.

    Um contínuo pesar quando um ciclo termina.
    Parabens uma vez mais srta, belo texto. bjo

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  2. E depois diz que ainda tem medo de escrever o que se passa.

    Lindo =)

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  3. precisamos que pessoas como voce volte a escrever, estamos carente de bons textos!

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Obrigada!