segunda-feira, 12 de março de 2012

Telescópica.


Lá onde eu morava tinha um céu que eu sempre ia visitar. Ficava no chão, lugar onde todo céu deveria ficar. Era maleável como um lago, mas eu sabia que era mais: era céu! Fazia dia, fazia noite, até tarde fazia. Não importava, refletia todo o tempo. Um céu de ponta cabeça que desmensurava tudo o que havia acima de si. Curioso era como sempre chovia nesse céu inverso. Eram gotas de peixe, o tempo todo. Em dia de tempestade era também dia de festa. Os peixes voavam pra lá e pra cá e não pousavam em margem alguma. Já não dava nem pra saber se eram gotas de peixe ou de nuvem.
Eu gostava de ficar observando aquele céu de cima. Era como se eu voasse sobre ele suspensa em seus ombros de lama e grama.  Mas eu acabava por virar paisagem – isso era quando as formigas me escolhiam como casa ou caminho (e eu gostava disso mais do que voar sem asas).

Aquele céu era um espelho envolto em ondas telescópicas.


imagem: Martha de Barros

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